Uma das maiores questões que afligem os pais, como eu, é se devemos ensinar nossos filhos a adaptar-se ao mundo ou a transformar o mundo. Afinal, um mundo como esse não é um lugar que queremos para nossos filhos, certo?
Devemos fazer de tudo para que nossos filhos não passem por isso ou devemos fazer de tudo para que isso não exista no mundo?
Os defensores da primeira ideia afirmam que o mundo se apresenta dessa forma (é assim porque é), e que não irá mudar pela força ou pela vontade de um indivíduo (ou dois, no caso, pai e filho), portanto, os filhos devem, desde cedo, se adaptarem às inóspitas condições que os esperam no futuro não tão distante.
Quanto antes eles começarem, melhor eles se posicionarão, e mais vantagem terão em sua vida adulta. Optam, mesmo sem querer, pelo Darwinismo Social, pela cultura da exclusão, pela "Lei do Mais Forte", pela competição, pela necessidade de "vencer na vida". Para esses, obviamente dentro dos limites morais e éticos de cada família, o filho deve "saber se defender", "ser esperto", "cavar" um pênalti, "se a farinha é pouca, meu pirão primeiro", ou, na fala de Umavez-ildo, personagem do imperdível livro/filme Lorax (OBS: em breve trataremos dessa obra aqui), "será que é tão ruim? Eu só faço o que é bom pra mim..."
Desnecessário dizer que essa ideia é prejudicial, pois, embora aparentemente vantajosa para a criança no curto prazo, pois tem mais chance de vencer na vida, portanto, mais chance de sobrevivência na ótica do Darwinismo Social, no longo prazo, ou mesmo no médio prazo, trará uma desvantagem para esse indivíduo, uma vez que dará uma contribuição para aumentar as mazelas do mundo, ou para perpetuar a pouca e má distribuída farinha no planeta. Ninguém pode justificar um mundo assim, ou acreditar que é possível se adaptar a essa condição
Defendo, portanto, que devemos ensinar nossos filhos a serem sujeitos da transformação do planeta em um lugar melhor para ele e os demais habitantes desse mundo viverem. Não apenas sobreviverem, mas verdadeiramente viverem em integração e comunhão. Para isso, é necessário ensinar que o diálogo é a forma de resolução de conflitos, que a vitória COM o outro é muito mais saborosa que a vitória SOBRE o outro. Ou seja, é preciso deixar para trás a competição pela farinha para buscar, coletivamente, e cooperativamente, mais farinha para todos, ou nenhum pirão será comido. Para mudar o mundo, só com a participação de todos. A vitória sobre os problemas do mundo só é possível se for coletiva.
Afinal, a própria natureza nos ensina que nem sempre é o mais forte que sobrevive, mas quem consegue, coletivamente, conviver com o meio.
Estou tentando mostrar para o meu filho que sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe, e com isso, tentar fazer com que ele seja sujeito dessa transformação.
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